Sabe-se que em psicanálise a técnica e a prática são fatores indissociáveis, um colabora e amplia e por vezes, anula o outro. Desde a descoberta da psicanálise realizada por Freud em 1882, sabe-se que a técnica passou por diversas modificações, pois foi a partir da experiência clínica demarcada por erros e acertos que Freud criou os principais pressupostos do que e como deveria se dar o processo de análise. Enquanto os hospitais psiquiátricos da época tratavam a doença mental de modo arcaico, Freud inovou ao dar voz as histéricas na busca de compreender os aspectos somáticos que essas apresentavam e o porquê.
Mediante utilização da hipnose, Freud percebeu que os pacientes que apresentavam paralisias, quando hipnotizados, deixavam de apresentar os sintomas, porém ao findar a hipnose, os sintomas retornavam. Dessa forma, surgiu a necessidade de encontrar uma técnica que colocasse fim ao sintoma, ou que ele pudesse existir, mas de uma maneira não tão penosa ao sujeito que padece.
O que Freud percebera é que de nada servia comunicar ao paciente os seus traumas, mas que os traumas deviam ser reconhecidos pelo sujeito pela via da associação livre que constitui a regra fundamental da psicanálise. Ao solicitar que o paciente falasse tudo que viesse a sua cabeça, sem achar que um conteúdo importa mais que o outro, Freud ofertou a possibilidade de o sujeito conseguir se escutar, pensar e ressignificar sua história e seus traumas. Como resultado, Freud percebeu que ao longo da análise os sintomas diminuíram e o paciente obteve saúde mental.
Ao longo do desenvolvimento da psicanálise diversas técnicas caíram em desuso e foi consolidado o tripé que deve sustentar a prática do profissional: estudo, análise pessoal e supervisão. Além disso, algumas recomendações foram dadas por Freud (1912) aos médicos que queriam exercer a psicanálise. Dentre as principais mudanças e recomendações, as que perduram até os dias de hoje e que compõe a ética da psicanálise são: neutralidade no domínio da contratransferência, análise das resistências do paciente, análise constante da transferência, tratamento baseado na verdade, abstinência, recusa a toda e qualquer oferta de amor do paciente e sigilo.
Pode-se pensar que com o passar do tempo houve uma flexibilização da técnica psicanalítica visto as dificuldades que o mundo contemporâneo impõe em relação a tempo, dinheiro e cultura à sociedade, o que possibilitou surgimento da psicoterapia psicanalítica, que difere da análise propriamente dita. Em uma psicoterapia psicanalítica oferta-se ao paciente um tratamento psicológico eficaz a sua demanda e disponibilidade, portanto, o modo como será conduzida a psicoterapia pode variar entre breve, focal, analítica, etc. Pode-se pensar que um tratamento psicológico eficaz deve ser baseado nos objetivos que o paciente almeja.
Apesar das mudanças relativas a técnica psicanalítica e cultura que foram impostas na contemporaneidade, pode-se observar que as estruturas de personalidade permanecem as mesmas. Parece que o que muda em relação a psicopatologia são: a forma como são apresentados os sintomas, o sofrimento do paciente e as possibilidades de cura atreladas as mudanças culturais que por vezes tornam o sujeito vulnerável.